Escola Startup: projeto para jovens em situação de vulnerabilidade de Porto Alegre
31st dez 2021 | Leitura de 13 min
Liderado pela Rede Calábria, a Escola Startup é fruto da colaboração com a uMov.me e outras quatro empresas para promover oportunidades a jovens em situação de vulnerabilidade de Porto Alegre.
A convite da Rede Calábria, a uMov.me se juntou a outros grandes atores do ecossistema de inovação de Porto Alegre com um objetivo em comum: capacitar crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade para que percam o medo de sonhar, transformar o sonho em ideia, ideia em projeto e projeto em negócio.
A Escola Startup pretende furar a bolha da inovação e impactar milhares de crianças e jovens da comunidade Bom Jesus de Porto Alegre.
Lançado oficialmente na quarta-feira (8 de dezembro), o projeto é fruto da colaboração entre sete correalizadores:
- Rede Calábria;
- Tecnopuc Cozinhe.me
- Share;
- Cumbuca Food Hub;
- Pacto Alegre;
- uMov.me, representada pelo CEO Alexandre Trevisan e o CHO Daniel Wildt.
Escola Startup: inovação, pioneirismo e cooperação
Encabeçando o projeto está a Rede Calábria, responsável pela gestão das atividades socioassistenciais e educacionais em 13 bairros da capital gaúcha, representando um elo de diálogo, aprendizado, colaboração e comunhão institucional entre atividades, profissionais e a sociedade.
Entre ações de qualificação profissional, educação e assistência social, a instituição já ajuda mais de 30 mil crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos anualmente.
A partir da atuação com crianças de até 14 anos da comunidade Bom Jesus, os profissionais da Rede Calábria perceberam a necessidade de um projeto que desse continuidade a esse trabalho durante a adolescência. O gestor pedagógico na Rede Calábria e cocriador do projeto, Germano Passoello, explica:
Conseguimos acolhê-los quanto à violência e insegurança, ou ajudar no acesso à educação. Mas existe um grande estigma quando aquele jovem tenta conseguir um trabalho de estágio ou como jovem-aprendiz. Ou ele chega despreparado, ou é barrado pelo preconceito. Boa parte da população da Bom Jesus é negra, então ainda tem toda uma questão de falta de privilégios relacionada a isso.
Germano Passoello, gestor pedagógico na Rede Calábria e cocriador do projeto Escola Startup.
Desenvolvido e aperfeiçoado ao longo de quase quatro anos, o projeto Escola Startup é um programa de intervenção social na comunidade Bom Jesus. As intervenções são divididas em temporadas, nas quais adolescentes com 12 anos ou mais desenvolvem uma série de habilidades ao longo de doze meses.
A primeira temporada já vai impactar diretamente a vida de cem jovens da comunidade, sendo a maior parte representada por meninas.
Passoello ressalta que o projeto é voltado, principalmente, para ajudar meninas da comunidade:
“Nós temos um marcador social que pelo menos 60% do grupo seja de meninas. O ecossistema de empreendedorismo é muito masculino hoje, então a ideia é inverter um pouco esse processo. Em espaços de vulnerabilidade social, a partir dos 12 anos de idade as meninas tendem a atuar em cuidados parentais — cuidar dos irmãos, primos, ser babá… então, elas acabam não participando de programas de orientação de carreira e desenvolvimento. Por isso, é importante fazer essa busca ativa. Se elas não conseguirem abrir mão de cuidar do irmão, por exemplo, nós vamos dar um jeito.”
Escola Startup Food Maker: aprendendo na prática como empreender na gastronomia
Através de um currículo prático, o principal objetivo da Escola Startup é oferecer todas as ferramentas para formar empreendedores que sonham, transformam o sonho em ideia, ideia em projeto e projeto em negócio.
Considerando as rotinas e necessidades dos jovens participantes, o programa será flexível e realizado e forma orgânica. Segundo Passoello, “o programa é muito orgânico, no sentido de que existe esta preocupação um tanto individual com cada jovem que vamos acompanhar. É baseado não na padronização, mas na customização.”
Chamada de Escola Startup Food Maker, a primeira temporada será voltada à gastronomia, tema que ressoa do ponto de vista de saúde e negócios com a região. O currículo conta com três laboratórios: o hub de gastronomia, hub de mídias sociais e o hub de tecnologia. Ao longo do período, os jovens poderão escolher o laboratório com o qual mais se identificam.
Mas a Escola Startup vai além de desenvolver habilidades. Neste sentido, na primeira temporada os jovens aprenderão a modelar um negócio na área gastronômica, da concepção às estruturas ferramentais que vão habilitar o grupo a concretizar ideias.
As primeiras oficinas começam no dia 20 de dezembro de 2021, com o início do período letivo oficial previsto para janeiro 2022. A estrutura curricular prevista envolve:
- 1º mês: voltado à inspiração, com cases e pessoas reais dando depoimentos, fazendo workshops, conversando com alunos e visitando o espaço;
- 2º, 3º e 4º mês: meses de imersão técnica e instrução, nos quais os alunos serão divididos em três grupos que passarão pelos três laboratórios do espaço;
- 5º mês: é o mês de aprender a ter ideias. Aqui, é quebrada a noção de que ter ideias é algo automático, colocando o brainstorming como um processo ativo de resolução de problemas;
- 6º mês: é o momento de aprender a tirar as ideias do papel, transformando-as em protótipos. A expectativa é de que os jovens sejam divididos entre 13 e 16 núcleos;
- 7º mês em diante: temática de negócios, com a realização de grupos focais, continuidade dos protótipos, oficinas sobre finanças, entre outras questões essenciais.
O projeto ainda destina parte do orçamento para tornar as melhores ideias em negócios reais. Ao final da temporada, será realizado um crowdfunding para investir em até três dos projetos mais concretos, dependendo da quantidade arrecadada.
A importância da cooperação
Se existe algo que efetivamente contribui para gerar valor na sociedade, é quando o trabalho colaborativo.
É o que considera Passoello. Segundo ele, as parcerias formadas foram essenciais para a execução do projeto — mas também não foi fácil.
“Um grande desafio foi encontrar pessoas que estão vinculadas à área de inovação e que queiram estar disponíveis para ensinar esses jovens, e não de forma ocasional. Precisamos ajudar a sensibilizar quem já é muito inovador de que nós precisamos investir não só entre os adultos, mas entre os jovens e adolescentes, porque o ecossistema precisa ser ventilado em outros espaços para que haja diversidade.”
A colaboração naturalmente envolve a troca de experiências, fomentando um aprendizado coletivo. Além disso, saber que outras pessoas compartilham os mesmos ideais também foi uma grande fonte de motivação na concepção da Escola Startup.
Passoello conta detalhes do trabalho no projeto:
“Toda vez que a gente senta para fazer um projeto novo, a gente aprende. Todo esse aprendizado, do ponto de vista de inovação e horizontes de trabalho e futuro, já está de forma bastante intensa se diluindo para dentro das estruturas da Rede Calábria. Trabalhar com um projeto inovador nos tornou uma organização mais inovadora. Um outro valor é de reconhecer no cenário pessoas que têm os mesmos ideais que nós. Isso é importante para nos mantermos fiéis às nossas convicções. É importante enxergar que não estamos sozinhos. Muitas pessoas e organizações generosas e empenhadas com inovação e com o compromisso social se apresentaram nesse processo de trabalho. Então, criamos muitos parceiros, muitas conexões e sinergia de trabalho com diferentes organizações a partir disso”.
Enquanto a Rede Calábria oferece a experiência em conexões com comunidades vulneráveis, a expertise dos parceiros supriu uma série de outras necessidades técnicas para criar a Escola Startup. É o caso da contribuição da uMov.me, como veremos adiante.
Mas é claro que um projeto que nasceu da cooperação também passará esse valor adiante. Enquanto a competição se intensifica cada vez mais na sociedade, principalmente no ecossistema de inovação, não há porque não dar um passo à frente de forma coletiva.
“Competência e colaboração precisam andar de mãos dadas. Afinal, ninguém sabe fazer tudo sozinho. O que sabemos fazer bem, podemos colocar a serviço dos outros, assim como precisamos do apoio de quem tem aquela habilidade que nos falta. Precisamos ensinar estes adolescentes, vivendo num mundo competitivo, a prosperar num mundo mais colaborativo”.
A parceria entre a Rede Calábria e a uMov.me
Em busca de um parceiro empreendedor compromissado com a inovação, a Rede Calábria pediu uma indicação ao ex-secretário de Inovação de Porto Alegre, Paulo Ardenghi. De prontidão, a resposta não foi outra: se o projeto é inovador, a uMov.me precisa estar junto!
Segundo Passoello, Ardenghi acertou em cheio na recomendação. Para ele, “uMov.me foi condição para a possibilidade de sucesso desse projeto. Se esse projeto vier a ter sucesso, é porque muitas pessoas competentes e capacitadas estiveram juntas para sustentar essa iniciativa.”
O CHO da uMov.me, Daniel Wildt, contribuiu no planejamento da Escola Startup ao propor que a tecnologia deve entrar no currículo como uma ferramenta de solução de problemas. Em vez de ensinar programação, será ensinado como implementar ferramentas tecnológicas de forma pontual.
“Em 2010, já tinham 200 mil pessoas precisando aprender tecnologia. Esse número só aumentou e vai seguir aumentando. Eu posso tentar lutar contra esse problema de preparar pessoas para a tecnologia, mas é equivalente a enxugar gelo. Por outro lado, eu posso atuar com pessoas que resolvem problemas com tecnologia. Não no sentido de saber programar, até porque existem diversos tutoriais e cursos sobre programação por aí. É sobre trabalhar com tudo que está envolto em um projeto de tecnologia — solução de problemas, planejamento, teste, validação de hipóteses”.
Daniel Wildt, CHO da uMov.me e cocriador do projeto Escola Startup.
Neste sentido, Wildt ainda relata que precisou pensar em novas ferramentas ou enxergar os recursos disponíveis de forma inovadora. Ao co-elaborar o projeto, o grande desafio foi pensar em ferramentas podem ajudar uma pessoa que não está acostumada com a tecnologia, ou não tem acesso, ou conhecimento.
Enquanto a uMov.me é líder na criação de aplicativos em plataforma no-code, o CHO se encontrou em um caminho inverso:
“Acho que é a primeira vez que eu montei uma jornada de aprendizado no-code, pensando em um problema sabendo que eu não poderia resolver com um código. Um dos aprendizados foi esse: pensar em uma jornada inteira de funcionamento de uma empresa só utilizando ferramentas prontas”.
Passoello destaca qual foi, para ele, a maior contribuição da uMov.me para a concepção da Escola Startup:
“A uMov.me contribuiu com o projeto especialmente nesta dimensão de transferência de tecnologia. Não como softwares ou hardwares, mas no âmbito social e de criatividade. A expertise de lidar com ferramentas, pensar processos de automação e organização, é algo que nós não temos tanta experiência. Isso a uMov.me trouxe com muita clareza. Com simplicidade, mas com profundidade de conteúdo. No nosso quadro de inovação, não existe nada que ofereça soluções com foco em ferramentas e tecnologia como a uMov.me faz. Sem esta parceria, nós não teríamos essa visão, que só quem está no mercado tem e que esse tipo de intervenção precisa”.
Durante a temporada da Escola Startup Food Maker, Wildt integra o time de mentores, que oferecerá auxílio aos grupos e aos professores de forma pontual. Neste sentido, será disponibilizado o apoio da tecnologia e conhecimento para que os jovens da Bom Jesus possam resolver problemas e executar o que pretendem.
“Algo que vou trabalhar com os grupos é achar que é necessário. Pouca coisa é “o necessário”, e é fundamental saber o que é necessário para fazer o projeto rodar. Você precisa ou deseja? A questão é sobre poder conectar o problema enfrentado com uma solução possível. Além disso, tem um trabalho muito psicológico para oferecer suporte, e quero me conectar ainda mais com a Rede Calábria para entender isso. Como vou ensinar as pessoas que o bom é falhar rápido e aprender mais rápido ainda se falhar, para elas, é algo de que muitas vezes não tem volta? Como ressignificar o processo de falhar? É por isso, também, que queremos que os grupos se ajudem. Não tem vencedores nesse projeto, porque não é uma competição. É sobre ensinar como usar a concorrência para criar abundância”.
Expectativas e próximos passos para a Escola Startup
Enquanto o início do projeto ainda está por vir, os cocriadores já têm esperanças quanto aos resultados da parceria.
Do ponto de vista social, Passoello ressalta que o projeto pode abrir um universo para os jovens participantes. Segundo o executivo da Rede Calábria, dentro da bolha da Bom Jesus, a concepção sobre o mercado de trabalho é a mesma de 1980, onde a meta era achar uma empresa para se aposentar por lá.
A Escola Startup pretende ajudar a compreender a realidade da nova economia e na adaptação ao ecossistema empreendedor. Neste contexto, Germano está otimista.
“Como grande motivo da não conclusão do primeiro ano de uma startup, não é a falta de sucesso. As pessoas que estão por trás da startup não suportam o atrito e resistência que criar algo novo provoca nas pessoas. Isso é algo que os adolescentes vão tirar de letra. Se não fossem resilientes, não teriam chegado à adolescência. Esse espírito vai fazer com que haja muita potência dentro do cenário de startups”.
Já Wildt espera que o projeto influencie outros empreendedores a criar iniciativas semelhantes, que gerem impacto em âmbito local ou nacional.
“Eu espero cópias — que as pessoas olhem esse projeto e façam cópias e variações dele. Para mim, se outras instituições do Brasil copiarem o modelo de um projeto como a Escola Startup e pedirem ajuda da Rede Calábria para fazer algo igual, seria muito legal. Não fazer a cópia pela cópia, mas para aprender com o que foi feito e inovar em cima disso. Para colaborar, não competir”.
Passoello complementa o impacto do projeto no âmbito macro, ao trazer a importância da diversidade no empreendedorismo.
“A natureza nos ensina que, quanto mais diversos são os indivíduos, mais saudáveis eles são. Atualmente, no ecossistema de inovação, nós temos players que vêm do mesmo horizonte. Eles enxergam as coisas do mesmo ponto de vista, com o mesmo paradigma. Em primeiro lugar, acho que vamos enriquecer esse ecossistema com outras vivências. Os adolescentes que vêm de outras referências e processos de socialização têm outras dores. Assim, eles poderão propor soluções diferentes, tanto para as suas dores quanto para dores coletivas. Além disso, esses jovens precisaram ter mais criatividade para sobreviver até então. Em termos de arte, sabemos que, quando há escassez de recurso, o artista precisa ser mais criativo para fazer seu trabalho. Em um trabalho de startup é a mesma coisa — a escassez e a criatividade desses jovens pode fazer com que eles enxerguem as dores do mundo de uma forma um pouco mais abrangente, achando formas onde outros não enxergam”.
Confira o vídeo completo do lançamento da Escola Startup!
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